Depoimento da professora Adelaide Maria Stoll
Felizmente, não encontrei dificuldade para arrumar o meu
primeiro emprego, tive até opção de escolha na época. Acabei optando por cuidar
de crianças e ser responsável pelos afazeres domésticos da família com a qual
passei a conviver. Senti dificuldade de adaptação, muita saudade e falta da
proteção dos pais, já que nunca antes havia ficado longe da minha família.
Encontrei dificuldade para efetivar a minha profissão.
Tive que batalhar muito para pagar a minha faculdade, enfrentar a competividade
e passar em primeiro lugar em um processo de seleção.
Depoimento da professora Véra Konrath
Depoimento da professora Véra Konrath
Em 1983, aos 19 anos comecei a lecionar numa escola
pública, multisseriada, em, uma localidade do interior, que na época pertencia
ao município de Lajeado, RS. Era uma região muito pobre onde, em termos
materiais, faltava praticamente tudo, mas sobrava afeto, solidariedade,
respeito e consideração à professora. Eu estava iniciando o Curso de Graduação
em Pedagogia, mas não tinha feito Magistério. O fato de não ter uma formação
específica, aliada a falta de experiência e de orientações, foram os fatores
que mais dificultaram o início da minha vida profissional. Eu estava sozinha na
escola, sem meio de me comunicar com alguém que pudesse me orientar, uma vez
que na localidade não tinha energia elétrica e muito menos telefone. Eu ficava
longe de minha família por várias semanas, pois chegar e sair do lugar onde eu
trabalhava era um grande desafio.
Eu ia até a comunidade, nas segundas de madrugada de
carona com o leiteiro e voltava nos fins de semana. Como eu voltava? Bom, isso
eu começava a planejar assim que chegava à localidade. Muitas vezes não tinha
como voltar, o ônibus mais perto passava a uma distância de cerca de dez
quilômetros da escola. Apesar disso fiquei lá por quatro anos, me sentia valorizada
por todos, pois nas escolas multisseriadas, a professora era integrante ativo
da comunidade, participava de eventos comunitários que incluíam desde a
preparação das celebrações à participação em festas familiares. Os alunos eram
todos muito pobres, a maioria vinha para a escola sem ter calçado e
guarda-chuva era um artigo de luxo. As crianças se protegiam do frio e da chuva
com sacos plásticos de adubo. Não havia pré-escola e ao ingressarem na escola,
a maioria não tinha a menor familiaridade com lápis e papel.
Todas estas dificuldades foram superadas, porque busquei
uma formação que pudesse me orientar, não só para que meu trabalho fosse mais
eficiente, mas também, para que através dele, eu pudesse contribuir para a
formação de outras pessoas, crianças, jovens e adolescentes. Hoje, olho para
trás e tenho orgulho de saber o quanto me dediquei para pagar minha faculdade,
muitas vezes deixei de comer, por falta de dinheiro. Eu caminhava do centro de
Lajeado até a UNIVATES, para poupar o dinheiro da passagem, assim, conseguia
fazer mais cadeiras na Universidade. Nas férias se podia fazer algumas cadeiras
e estas eram sempre mais baratas para incentivar a formação de turmas. Durante
todo o tempo que fiz faculdade nunca tive férias, eu estudava, pois durante o
ano não consegui me deslocar do local onde eu trabalhava.
Eram tempos muito diferentes dos atuais, não cabe julgar
se melhores ou piores. Apesar de todas as adversidades foi um período que fui
muito feliz, eu aprendia, não só na Faculdade, mas também ou talvez muito mais,
no dia a dia da vida na escola. Penso que cada um tem uma história de superação
que viveu no início de sua atuação profissional, e é importante que outros, que
ainda não passaram por isso, conheçam essas histórias, pois isto os ajudará a
compreender que, todos passamos por períodos conturbados, mas são estes os que
mais nos fortificam.